Projeto Canción

quinta-feira, agosto 17, 2006

Querido e pobre Paraguai

Hoje fomos a duas cidades próximas, Areguá e Ypacaraí. Areguá é a capital do departamento central (os departamentos são equivalentes aos estados no Brasil), o mesmo ao qual pertence Assunção, a capital federal. Ironicamente não passa de uma vila, uma cidadezinha típica de interior, constituída por uma praça, uma igreja, a prefeitura e poucas ruas. Muito charmosa, é repleta de artesananto típico, construções pertencentes ao Patrimônio Histórico Cultural e uma gente muito receptiva. É também conhecida como "a cidade do morango".
Quanto a Ypacaraí, não se pode dizer o mesmo. Uma cidade sem muitos atrativos, mas o povo, como a maioria dos paraguaios com quem tive contato, é muito receptivo. Com poucas exceções, como Assunção e Cidade de Leste, os municípios paraguaios são pequenos e pouco desenvolvidos.
Existem somente duas rodovias no país, e todas as cidades localizam-se às suas margens. Beirando Assunção, várias cidades compõem a região metropolitana. Todas residenciais, alimentam-se da capital. Uma delas é Lambaré, onde estamos hospedados na casa da Ali.
A divisão das classes sociais é nítida: pelo modo de vestir, de agir e de falar - em grande parte devido à influência do guarani. Nos colégios elitizados, os estudantes são repreendidos quando usam expressões em guarani. Os pertencentes às classes sociais mais baixas têm o guarani como língua-mãe, e mesmo quando aprendem o espanhol suas origens continuam aparentes. Eles são discriminados, não conseguem bons empregos. Nem mesmo podem ser telefonistas ou atendentes, porque não são considerados apresentáveis.
O espantoso é que grande parte da população não fala o espanhol, o que demonstra quão estreitas são as portas da ascensão social. Os únicos que têm chance são aqueles que, por sua aparência, passam por ricos e modernos. Mesmo aqueles que têm um bom nível de econômico, mas moram no interior, pertencem a um diferente nível social. É uma questão de se saber portar - "ter classe".
O que mais me assusta é que a situação brasileira nunca se desenhou tão claramente para mim. O cenário social é o mesmo, com exceção do "fator guarani". Os pobres estão fadados a um penoso destino, a não ser que "se disfarcem" de ricos. Triste, mas real.
Aqui a corrupção é firmemente institucionalizada (mais semelhanças...). O ex-ditador Stroessner morreu, mas a hegemonia do Partido Colorado continua, assim como a concentração de renda, o subdesenvolvimento, as situações precárias de educação e saúde, os problemas de infra-estrutura e a ineficácia do governo. Infelizmente são essas as expectativas para os países latino-americanos. Um povo com uma cultura tão rica, marcado pela exploração histórica e pela desorganização.
















Mi

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