Projeto Canción

quarta-feira, agosto 30, 2006

O país da informalidade

Uma característica paraguaia quase sempre esteve presente: a informalidade. Provavelmente se trata do maior índice demográfico de vendedores ambulantes por metro quadrado! Chipas - um tipo de broa bem típica do Paraguai, maçãs, chicletes, óculos escuros, capas de celular, cigarros, ou seja, quase tudo que se pode imaginar sendo vendido nas ruas. E nos ônibus. Os vendedores podem entrar sem pagar passagem, oferecem seu produto e descem. É muito bom quando se está cansado e com fome e aparece um vendedor com chipas quentinhas. Essa é a parte agradável, mas infelizmente as altas taxas de trabalho informal refletem a difícil condição do país, que não é capaz de gerar empregos suficientes para sua população.
O Paraguai é informal também em outro sentido - no jeito de ser do seu povo. Um exemplo: encontramos a filha de Demétrio Ortiz, um tradicional músico paraguaio, numa homenagem a seu pai no museu de Ypacaraí. Ao fim da cerimônia, ela convidou a todos a visitar o museu de seu pai, que ela mantém em sua casa em Assunção. Fomos falar com ela, explicamos que somos brasileiros e que estamos desenvolvendo um projeto sobre a cultura latinoamericana a partir do personagem do músico etc e tal. Ela nos passou seu endereço e telefone, disse que estaria nos esperando no sábado à tarde e pediu para ligarmos para confirmar a visita. Eu liguei no sábado, como marcado, e o marido dela atendeu: "Ah, é a brasileira? Vocês não querem vir aqui hoje à noite, vai ter música, churrasco...", enfim, nós fomos.
Pensamos que não passaria de alguns amigos tomando cerveja e cantando à memória de Demétrio Ortiz; o que foi, no final das contas. Mas nos surpreendemos quando percebemos que estávamos em um jantar com importantes músicos. Tratava-se do aniversário de trinta anos da morte do homenageado. Inclusive maestros paraguaios estavam presentes para tocar a música tradicional paraguaia, e em especial, um pouco da obra de Demétrio Ortiz. Os mais velhos talvez lembrem de "Mis noches sin ti" e "Recuerdos de Ypacaraí", as mais regravadas músicas paraguaias, ambas de Demétrio Ortiz. Aliás, o nosso renomadíssimo Caetano Veloso tem em sua discografia uma versão de "Recuerdos de Ypacaraí".
Harpa, violões, maracas e várias vozes. Não sabíamos se tirávamos fotos ou simplesmente apreciávamos a boa música. Tentamos fazer os dois. E mesmo entre artistas renomados fomos muito, muito bem recebidos. O músico Lucio Marín e sua esposa fizeram questão de me passar o telefone e o endereço de sua casa, para visita-los da próxima vez que estivermos em Assunção. Ele nos contou (algumas vezes, depois de alguns vinhos) da vez que conheceu Pelé, mas concordou comigo que o melhor jogador da história foi de fato Garrincha.
Foi uma noite maravilhosa, que me deixou encantada com a cultura e com o povo paraguaio.



















Mi

1 Comentários:

Às 8:23 AM , Blogger Unknown disse...

Estudei Medicina na cidade de Villarrica, Paraguai. Meus pais são paraguaios (minha mãe de Ypacaraí e meu pai de Asunción). Nunca vou me esquecer que já no primeiro dia de aula, um colega meu, ao me ouvir falando em português com minha mãe, aproximou-se e me perguntou se eu era brasileira, num português forçado... rsrs... Respondi que sim, em espanhol. Me convidou para sua casa, onde ali conheci muita gente, na famosa roda de tererê... Os paraguaios adoram os brasileiros, pois nossos povos são receptivos, hospitaleiros... Pode ser um grande músico, mas sempre será "sencillo", termo castellano para definir "simples". Os paraguaios são assim. Que saudades... Abraço!

 

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