Projeto Canción

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Entre passeatas e cachoeiras

Uma família em cima da cascatinha, seguindo o curso do rio. Guarda-chuvas para se proteger do sol. Eu de frente à cascata, sentada numa pedra, com os pés na água. Chuá, chuá, chuá.
Acabamos de almoçar. O Thiago está se preparando para ir trabalhar. Eu fico aqui cuidando das coisas, barracas e mochilas. Virei ama-de-casa por uns dias.
Estamos acampados em Coimata já faz uma semana, a vinte minutos de Tarija, capital do departamento que também se chama Tarija, fronteira com a Argentina.
Sob este solo se encontra a maior riqueza da Bolívia: o gás natural. Tem gente aqui com muita grana, e essa história de nacionalização não lhes vêm muito a calhar.

Autonomia
O país está em turbulência. Uma nova constituição nacional será elaborada. Em alguns departamentos, os mais ricos, um movimento contrário à política presidencial está tomando as ruas com passeatas e promovendo greves de fome. Eles querem autonomia departamental na exploração dos recursos, e que a constituição seja aprovada com dois terços do congresso e não com maioria simples. Integrantes do movimento afirmam que como Evo já tem maioria no congresso, poderá aprovar o que quiser, inclusive o controle federal das reservas de gás natural e a reforma agrária, mudanças que consideram muito radicais.
Ao meu ver esse movimento está mais para a autonomia dos bolsos endinheirados que fazem das ruas de Tarija uma passarela, onde se desfilam as novas e caras tendências da moda e carros importados. Isso no país mais pobre da pobre América do Sul.
E a massa segue a elite, enchendo as ruas. Autonomia – parece bonito, não?

Barraca, cachoeira, fogueira e violão
Chegamos em Coimata para passar o dia, dormiríamos na casa de um casal de artesãos. Trouxemos sacos de dormir, uma panela, casacos, e um pouco de comida. Ao final das contas o casal não veio. Dormimos ao relento, baixo às estrelas, aquecidos pelo fogo. Acordamos com o sol nos fritando e fomos direto para a fossa, onde a cachoeira desagua.
No hotel, de volta a Tarija, uma senhora me chamou. "Venha ver, minha filha, estou vendendo umas coisas, entra, entra". O que uma velhinha poderia ter que me interessasse? Mais por educação, fui ver o que a senhora queria mostrar.
Não sei como a velhinha tinha tanto bagulho no hotel. Soldado, nosso amigo malabarista e companheiro em Tarija e Coimata, comprou uma mochila por quarenta bolivianos, equivalente a uns dez reais. Eu me interessei por uma barraca, muito melhor que a quebra-galhos que tínhamos, e um tripé, ambos novinhos. Noventa bolivianos os dois, menos de vinte e cinco reais. Praticamente uma pechincha.
A barraca velha demos para o Soldado. "Pronto, vamos viver em Coimata, temos tudo que precisamos e ainda economizamos a grana do hotel", ele disse. Parecia uma boa idéia...
Soldado é de Jujuy, província ao norte da Argentina. Louco, comprovando minha tese sobre os argentinos. Faz mágica com os malabares, nunca pára de falar e fazer palhaçadas. Ele e Thiago iam à cidade trabalhar alguns dias, e eu ficava sozinha, me nutrindo do silêncio. Quando eles voltavam, festa – com o Soldado não podia ser diferente. Ele foi embora ontem, de volta à sua terra.
Depois de tanto tempo presos em cidades, viver em plena natureza está sendo muito bom, revitalizando as energias. Sombra, fogueira e água fresca; precisa de mais?
















Mi

3 Comentários:

Às 11:14 PM , Blogger Daniel Caron disse...

Muito bom texto Mi. Está amadurecendo a cada dia. Pena que não rola mais foto no blog... Estamos torcendo por vcs!

 
Às 2:36 AM , Blogger Augusto Ouriques Lopes disse...

Caro Caron,
Meu irmão você falou o que eu iria dizer.

Mi,
Seus textos estão cada vez melhores. E cada vez mais também admiro vocês dois, seu loucos.

 
Às 7:00 PM , Blogger Michele Torinelli disse...

queridos caron e augusto, meus analistas de blog, muito bonzinhos, sempre com elogios. Gust, continua sendo o leitor mais assíduo do blog! vou ter que pensar num premio...
Beijao meninos

 

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