Projeto Canción

terça-feira, setembro 19, 2006

As várias faces de Buenos Aires

Entre experiências agradáveis e decepções, Buenos Aires está sendo uma loucura. Um dia, andando pelo centro, demos de cara com um trio de rock (baixo, guitarra e bateria) alucinante. Uma grande platéia se juntou na praça, inclusive senhores de terno e gravata curtindo o som, que variava do punk até o reggae. Puro improviso.
















Depois fomos parar numa casa de shows que parecia ser muito boa, com quadros inspirados no tango e velas sobre as mesas. A entrada era trinta pesos por pessoa. "Não tem desconto para estudante?", tentei pechinchar. Ele acabou botando nós dois para dentro por uma entrada. Saímos no lucro? Nada disso. Trinta pesos jogados no lixo. Uma tal de Silvina Garrés subiu ao palco, e nos fez conhecer o pior da música pop romântica argentina. E ainda por cima deve ser famosa, a platéia sabia todas as letras de cor.














O Thiago quase dormiu. Eu fiquei tentando entender o que ela falava, mas era sempre sobre alguém sem o qual ela não pode viver...
A casa em que estamos hospedados é muito legal. Pablo, um dos moradores, faz parte do Soy loco por ti, organização pela união latino-americana que tem como membros amigos nossos de Curitiba. Nesta casa moram umas seis pessoas, que vivem solidariamente e abrem espaço para a cultura.






casa do Pablo







Às segundas-feiras acontece o ensaio da banda de música andina, da qual Pablo faz parte. Domingo houve uma oficina de introdução ao calendário maia. Sexta-feira teve uma festa de comemoração da inpendência do Chile. Aliás Pablo e Antonio, outro morador da casa, são chilenos, e muitos amigos também chilenos compareceram à festa no terraço. Ficamos conversando com o Reymond. Ele é de Mendoza, província argentina na divisa com o Chile. Seu irmão está morando em Cuba, nós queremos ir para Cuba e assim a conversa foi fluindo. Ele nos chamou para ir com ele a um bar, onde ele tocaria com outros músicos. Já como era de graça, fomos. No caminho descobrimos que se tratava de um bar de jazz. Reymond toca saxofone, e junto com ele estavam tocando o também saxofonista Johnny, um baixista e um baterista. Foi fantástico. Johnny parecia que tinha música nas veias, além de ser um palhaço. A platéia também dava espetáculo. Os amigos dos músicos eram... como posso dizer... insanos.
















Depois da apresentação, uma mulher na mesa ao lado estava contando a história da Geni, personagem da música da Ópera do Malandro, de Chico Buarque. Me meti no meio da conversa: "oi, tudo bem, eu sou do Brasil, estava ouvindo a conversa e só queria dizer que, na verdade, Geni é um travesti". Assim começou o papo. Ela, aqui da Argentina, apóia o MST e o Psol, queria saber em quem eu vou votar, como está o processo eleitoral no Brasil, essas coisas. Fiz minhas críticas, falei que se eu conseguir votar do exterior meu voto será nulo, que na minha opiniao a Heloísa Helena só mete o pau em tudo e não apresenta propostas e que no Congresso Nacional de Entidades de Base o Psol, assim como o PT e o PSTU, simplesmente não permitia o debate. Ela ficou preocupada e disse que mandaria um email urgentemente para seus amigos no Brasil. Engraçado, ela sabia mais da conjuntura política do Brasil que muitos brasileiros. Saímos do bar e voltamos para a festa. Quer dizer, eu fui direto para a cama.
Outra coisa: as praças e parques sempre estão cheios de pessoas deitadas na grama, lendo, brincando ou simplesmente tomando sol. E quando digo pessoas incluiu crianças, velhinhos, jovens, casais de meia idade e também moradores de rua. Isso me surpreendeu. Aqui não é como em Curitiba - riquinhos no Barigui, mendigos na Tiradentes. As pessoas se misturam um pouco mais e parece que não se tem tanto medo dos moradores de rua.
Ah, mas como costuma ser em todos os lugares, existem várias Buenos Aires. A Buenos Aires dos cafés caros do centro, com pessoas sérias, bem vestidas, com jeito de esnobes. A Buenos Aires da periferia, repleta de bolivianos, favelas (ou villas, como se chama aqui) e condomínios feios. A Buenos Aires de San Telmo, o tradicional bairro repleto de lojas de antigüidades, onde a cerveja custa em média oito pesos, enquanto nos lugares mais baratos se paga três pesos e cinquenta centavos. Tem a Buenos Aires da Recoleta, onde se localiza a Plaza de Francia, que me pareceu ser o lugar mais nobre da cidade. É incrível a tenaz linha que separa a nobreza dos plebeus. Estávamos na Recoleta, saindo da feira de artesanato, com fome e procurando um lugar para almoçar. Tudo caro, obviamente. "Vamos até o centro", pensamos, "lá vai ser mais barato". E, depois de caminhar um pouco, de repente, de uma quadra para outra, saímos do reduto de luxo, onde as ruas são mais limpas e arborizadas, as lojas mais finas, os prédios mais elegantes, e entramos no centro. Três e cinquenta um sanduichão. Viva as lanchonetes de banheiro sujo e comida barata.
Aliás, essa é uma característica argentina que não me agrada: comida baratinha, só besteirada. Não aguentamos mais comer pizza barata de muzzarela. As massas também não saem muito caro e são bem mais atrativas, mas para quem está querendo economizar, é um luxo que se permite só de vez em quando. Bom mesmo é quando podemos cozinhar. Comida boa, saudável e barata.
É, Buenos Aires surpreende, em todos os sentidos. Europa sulamericana, nem tanto. Mas que é uma loucura, ah, isso é.



Mi

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial