Homem primata
Cada vez me decepciono mais com nosso mundo, e cada decepção fortalece minha crença de que necessitamos de uma mudança urgente. É uma questão de mentalidade, dos valores básicos que regem nosso cotidiano, nossos relacionamentos, nossa visão de mundo, do outro e de nós mesmos.
Há pouco mais de um ano estive como turista em Buenos Aires. Naquela ocasião conheci a Plaza de Francia, que todo fim-de-semana é ocupada por uma feira de artesanato. Fiquei encantada com tantas coisas lindas, que se superavam e atingiam a condição de arte. Hoje voltei à mesma praça, agora como artesã, e infelizmente o encanto se desfez.
Chegamos à praça e fomos fazer o "reconhecimento do local". Percebemos que não havia artesãos extendendo panos no chão. Conversei com um vendedor e ele me confirmou que realmente a polícia não permite a venda informal. Para mostrar seu trabalho tem que ter licença para utilizar uma barraquinha - e pagar por isso. Amarrei nossos "swings" de fitas no pescoço e comecei a brincar com um par deles, mostrar como se faz. Se alguém parasse para olhar, daí sim diria que estavam à venda. Um jeitinho de driblar a polícia.
Ao meu lado, há uns 6 metros, um senhor tocava seu violão, com o chapéu no chão. Ele pareceu fazer um gesto pra mim. "Será que ele quer que eu saia? Não, não deve ser isso", pensei. Mas era. Ele se levantou e veio em minha direção. Disse que eu tinha parado muito perto dele, que era para eu sair dali. Argumentei que não estava pedindo dinheiro pelo "espetáculo". Mas ele firmemente (ou rudemente) falou que eu desviaria a atenção das pessoas. "Tem outros lugares por aí, aqui já tem gente suficiente", concluiu. Virou as costas e voltou à sua posição. Eu, muito chateada, cedi. Fiquei sem enteder o que se passava na cabeça desse senhor. Afinal, se o trabalho de um artesão atrapalhasse o do outro, por que todos se juntariam em uma praça? Não é justamente a diversidade o atrativo das feiras?
Resolvi sair para dar uma volta, tirar umas fotos. Encontrei um outro senhor tocando violão e cantando. Apontei minha objetiva, estava ajustando o foco quando o vi fazer um gesto - dessa vez eu entendi, ele queria que eu colocasse uma moeda. Disse que eu não tinha dinheiro. "Sem dinheiro, sem foto", ele respodeu. Parou a música só para me impedir de tirar uma foto. Fiquei tão chocada que não consegui mais argumentar. Nocaute. Justamente dois senhores, de quem se espera sabedoria, ou ao menos maturidade. No mínimo educação. Mas a pobreza de espírito não tem idade, sexo nem raça.
Lembrei dos artesãos em Isla de Cerrito. Sentiam imenso prazer em dividir seu espaço, sua comida, seu conhecimento com quem quer fosse, inclusive com dois brasileiros que tinham conhecido uns dias antes.
Sim, é um questão de mentalidade, de valores. De pôr em prática a fraternidade e superar o egoísmo e o materialismo. Uma questão de se permitir evoluir, de plenamente SER HUMANO.
Mi
2 Comentários:
Desculpe gust, nao estava conseguindo responder até agora e tempo para internet tá realmente curto, afinal, é paga.
Beijos
depois escrevemos um pouquinho mais.
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