Projeto Canción

sábado, setembro 15, 2007

Ser ou não ser: eis a questão

"Enfiou o vestido de tafetá preto, escolheu um colar no cofre das jóias, disse em voz alta: - Esta noite faço tranças. - Há algum tempo se habituara a falar em voz alta. Tocavam à porta de entrada, os convidados começavam a chegar. Trançou lentamente os cabelos. - Esta noite quero mostrar-lhes meu verdadeiro rosto. - Aproximou-se do espelho e sorriu para si mesma. Seu sorriso petrificou-se. Aquele rosto que ela tanto amara parecia uma máscara, não lhe pertencia mais; seu corpo era-lhe igualmente estranho: um manequim. De novo quis sorrir, e o manequim sorriu no espelho. Desviou o olhar: dentro de um instante estaria fazendo caretas.(...)Tudo parecia verdadeiro."

(Todos os homens são mortais, Simone de Beauvoir)



Curitiba. Acordar, tomar banho, ir para a aula, voltar para o almoço. Do computador para os livros, dos livros para o computador. Para quê?

Em certos momentos tudo parece tão sem sentido. Por que eu preciso da aprovação dos outros? Sentir-me útil? Esse blog, o TCC... Tentativas de provar para mim mesma que eu estou viva, que eu existo, que as coisas fazem sentido.

Por alguns instantes sinto a vibração da vida. Um olhar, uma árvore, uma conversa, um horizonte. De dia, caminhando sozinha pela cidade, a vida parece real. Mas à noite o bar, que já foi tão apaixonante, transforma-se aos meus olhos num teatro decadente, vazio, previsível. Já estou morta e assisto a tudo com um plácido desespero. Busco o momento verdadeiro com os amigos. Nem sempre consigo. Sou crítica demais. Tento relaxar. Mas não dá. Certas coisas não fazem mais sentido.

Uma música, um beijo, um amigo; algo vem me salvar. Sinto aquele entusiasmo apaixonado, tão característico, voltar a correr nas veias. As vezes ele dura dias. Porém inevitavelmente, em algum momento, a chama se apaga.

Meus guias, aqueles que são sólidos: a beleza, o amor e a arte. Eles me dão esperanças, me apontam caminhos, me dão objetivos - me permitem sonhar.



Mi